O Fruto do Espírito Santo
"Mas o fruto do Espírito é: caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, tempe­rança" (Gl 5.22).
O "fruto" e os "frutos" mencionados nas Escrituras, especialmente no Novo Testamento, são qualidades mo­rais e espirituais cultivadas pelo Espírito de Deus na personalidade cristã.
O primeiro vem citado no singular, embora composto de "nove qualidades" diferentes, formando uma diversi­dade de operações. Contudo, é o "mesmo Espírito" que "opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer" (cf. 1 Co 12.11). Significa que o fruto, mesmo sendo composto de nove qualidades, con­tém um só sabor que abre caminho para a perfeição até transformar o cristão "de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor" (2 Co 3.18).
O fruto do Espírito é o resultado na vida dos que participam da natureza divina, ou seja, dos que estão ligados a Cristo, a "videira verdadeira" (Jo 15.1-5). Assim, passamos a obter uma nova natureza, porque fomos "gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permane­ce para sempre" (1 Pe 1.23).
Os frutos do Espírito Santo mencionados em outras passagens das Escrituras referem-se a outras operações do Espírito de Deus na vida do cristão, produzindo outras virtudes na alma, que depois examinaremos à luz do contexto.
1. Amor (caridade)
Este atributo do Espírito de Deus é evidentemente o mais sublime de todos. Ele é o fundamento sobre o qual os demais dons e virtudes do Espírito Santo estão edificados.
O amor é o solo onde são cultivadas as demais virtu­des da existência, seja terrena ou celestial.
O amor é a base onde todos os dons espirituais são implantados.
O amor é a fonte de onde fluirão as demais fontes de tudo que é divino: "A caridade [amor] nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três, mas a maior destas é a caridade" (1 Co 13.8,13).
O Filho de Deus nos ensinou a caminhar as "duas milhas" (Mt 5.41): a primeira é a "milha do dever", a segunda, a "milha do amor".
Quem trabalha para Deus apenas para cumprir seu dever cristão, reconhece-o apenas como Senhor. Mas quem trabalha por amor e gratidão pelo que Ele fez e continua fazendo em sua vida reconhece-o como Pai.
A observância dos mandamentos de Deus e dos ensina­mentos de Cristo requer amor no coração. Jesus disse: "Se me amardes, guardareis os meus mandamentos" (Jo 14.15); "de sorte que o cumprimento da lei é o amor" (Rm 13.10), "porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Gl 5.14).
Há alguns anos, circulou nos Estados Unidos um in­forme mostrando "três maneiras de amar": por causa de, por causa de si mesmo e apesar de.
a. Amor por causa de. O amor desenvolvido nesta esfera aponta para um tipo interesseiro, que visa recompensa imediata para si e para aquele que é amado. Em outras palavras, ama-se porque existe um motivo que leva a amar.
b. Amor por causa de si mesmo. Esta maneira de amar indica alguém que estabelece determinadas normas para ser amado. É um amor subjetivo, que ama mas ameaça. É como ouvimos dizer: "Eu te amo! Mas se fizeres isto ou aquilo, não te amo mais!" Esse gênero de amor é condici­onal, e não voluntário.
c. Amor apesar de. Este amor é descrito como sendo o amor de Deus. Sua dimensão é infinita, e seu alcance, muito vasto!
O termo agapao aparece 142 vezes no Novo Testa­mento; e agape, 116 vezes. Ambos vêm da raiz hebraica aheb, que passou para o grego da Septuaginta com o sentido de "supremo sacrifício".
João 3.16, o "texto áureo" da Bíblia, mostra-nos a natureza deste amor, que induziu Deus a entregar o seu próprio Filho unigênito a morrer pelo mundo. Tal amor não pode jamais ser descrito. Isto só foi possível porque "Deus é amor" (1 Jo 4.8).
Em Romanos 5.8, lemos: "Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores". Não nos foi revelado, por certo em razão de nossa mente limitada, o que motivou Deus a nos amar assim. Mas esse é o amor que ama sem ser amado e não visa nada em troca. Neste sentido, o amor pode ser traduzido por "caridade" e até por "ardente caridade", que é o amor aplicado (2 Pe 1.7).
2. Gozo (alegria)
Algumas versões da Bíblia traduzem "gozo" por "ale­gria", sendo esta a felicidade que o crente desfruta no Espírito Santo.
O termo grego aqui é chara. O termo charis, traduzi­do em português por "graça", vem da mesma raiz. Charis, a partir de Homero, passou a significar "aquilo que pro­move bem-estar entre os homens".
a. Definição. O substantivo charma traz a idéia de "encanto", de onde provém "charme" - aquilo que é for­moso ou atraente. Como atributo do Espírito Santo, a alegria é uma qualidade implantada na alma que teve um encontro com o "Deus de toda graça", e visa uma vida de rogozijo e de agradecimento no Senhor. Paulo recomen­da aos cristãos filipenses que sejam agradecidos e cheios de regozijo: "Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: regozijai-vos" (Fp 4.4).
b. Alegria, fruto do louvor. "Está alguém contente? Cante louvores" (Tg 5.13). "A alegria envolve pensa­ mentos suaves sobre Cristo, hinos e salmos melodiosos, louvores e ação de graças, com que os cristãos se instru­em, inspiram e refrigeram a si mesmos. Deus não aprecia a dúvida e o desânimo. Também abomina as palavras que ferem, ou pensamentos melancólicos e tristonhos".()
O desejo de Deus é ver seus filhos cantando "com graça no coração" (cf. Cl 3.16). Nas Escrituras, a alegria trazia força e até saúde ao povo de Deus: "Ide, e comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque esse dia é consa­grado ao nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força" (Ne 8.10); "O coração alegre serve de bom remédio, mas o espírito abatido virá a secar os ossos" (Pv 17.22).
O anjo do Senhor bradou dos céus: "Não temais, por­que eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo" (Lc 2.10). A alegria cristã, portanto, não é uma emoção artificial. Antes, é uma ação do Espí­rito Santo no coração humano, para que este venha a conhecer que o Senhor Deus está no seu trono, e que tudo neste mundo submete-se ao seu controle, até mesmo onde a experiência pessoal está envolvida.
Esta ação poderosa do Espírito Santo em nossas vidas é inspiradora, dando-nos esperança e confiança e enchendo-nos de coragem para avançar na direção em que formos enviados. Este foi, sem dúvida, o grande sucesso da Igreja Primitiva. Os cristãos estavam cheios de ale­gria, e por este motivo "em todos eles havia abundante graça" (At 2.46; 4.33).
c. Alegria, fruto da glorificação. A alegria faz parte da esfera central do Reino de Deus que "não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Porque quem nisto serve a Cristo agradável é a Deus e aceito aos homens" (Rm 14.17,18). A tristeza somente é benéfica quando vem de Deus para produzir arrependimento e, depois, edificação: "Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende..." (2 Co 7.10).
Portanto o gozo, como fruto do Espírito, é a alegria implantada pelo Senhor Jesus no coração e na expres­são de nossa vida para com nós mesmos e nossos semelhantes. Ele disse: "A vossa alegria, ninguém vo-la tirará" (Jo 16.22).
3. Paz
Várias passagens das Escrituras apresentam o Senhor como "varão de guerra" (cf. Êx 15.3; Sl 24.8), mas Ele é também chamado "o Deus de paz" (Rm 15.33; 2 Co 13.11).
A guerra tira a paz. No campo espiritual, entretanto, esta é função do pecado. Ele tira a paz do coração - para com Deus, os outros homens, o próprio ser e a própria consciência. Porém, com o perdão dos pecados, esta vir­tude é implantada no coração.
O fruto "paz" foi criado por Cristo, e é implantado no salvo pelo Espírito Santo.
Cristo é a nossa paz (Ef 2.14).
Cristo evangelizou a paz (Ef 2.17).
Em Cristo, Deus e o homem se encontram em paz (Ef 2.15).
Em Cristo, o crente desfruta a paz (Jo 14.17; 16.33).
A paz envolve muito mais do que a tranqüilidade íntima que prevalece a despeito das tempestades exter­nas. Trata-se de uma qualidade produzida em nosso espí­rito. A verdadeira paz tende à tranqüilidade de consciên­cia. A paz opõe-se ao ódio, à desavença, à contenda, à inveja, à chantagem psicológica, aos excessos e coisas semelhantes.
Este fruto do Espírito guarda a alma do desespero, a aflição e da desconfiança, conforme escreve Paulo: "E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus" (Fp 4.7). Cristo, é, portanto, o Rei de Salém - que é rei de paz, à semelhança de Melquisedeque, que "pri­meiramente é, por interpretação, rei de justiça e depois também rei de Salém, que é rei de paz" (Hb 7.2).
Longanimidade
O termo grego para "longanimidade" é makrothumia, que traz a idéia de "paciência" em sua forma adjetiva, o que indica a qualidade de alguém que é tolerante por natureza.
No conceito rabínico, muitas vezes a palavra "longanimidade" era tomada para indicar "extensão" - especial­mente quando se referia à misericórdia de Deus para com o seu povo: "Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verda­de" (Êx 34.6).
Para Adam Clarke, a longanimidade consiste em "su­portar as fragilidades e provocações alheias, com base na consideração de que Deus se tem mostrado extremamen­te paciente conosco; pois, se Deus não tivesse agido assim, teríamos sido imediatamente consumidos: supor­tando igualmente todas as tribulações e rebeldias; submetendo-nos alegremente a cada dispensão da providên­cia de Deus, e assim derivando benefícios de cada ocor­rência". ()
Deus é o exemplo supremo que devemos seguir. Sua misericórdia abarca a todos os seres humanos, e ninguém é tido por merecedor dela. Assim "as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim" (Lm 3.22).
A misericórdia sempre mitiga e condiciona a justiça, assim como a caridade abranda o furor do direito legal. Não existe tal coisa como a justiça crua, despida de misericórdia. Esta a razão de Cristo ter declarado: "Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia" (Mt 5.7).
5. Benignidade
O termo "benignidade" (no grego, chrestotes) traz a idéia de "gentileza", "bondade" etc.
Sobre este fruto do Espírito escreve Martinho Lutero: "Os seguidores do Evangelho não devem ser inflexíveis e amargos, mas antes, gentis, suaves, corteses e de fala mansa, ainda que com poder e autoridade, o que deveria encorajar outros a buscarem sua. companhia... A gentile­za pode dar-se bem até mesmo com pessoas ousadas e difíceis... Nosso Salvador Jesus Cristo, era uma pessoa imensamente gentil... Acerca de Pedro, ficou registrado que ele chorava sempre que se lembrava da suave genti­leza de Cristo em seus contatos diários com as pessoas... e depois, quando apenas "olhou para ele"... concedendo-lhe o perdão por ter negado seu Mestre três vezes".
Deus é o exemplo originário da benignidade, e Cristo, o exemplo iéesl, passando a ser o nosso modelo (2 Co 10.1).
Salmos 119.64 exalta a benignidade de Deus: "A ter­ra, ó Senhor, está cheia da tua benignidade..." Esta quali­dade faz do crente uma pessoa compassiva, cheia de ternura e, sobretudo, contemplativa para com os menos privilegiados.
6. Bondade
Quando Jesus falou para o jovem rico: "Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus" (Lc 18.19), Ele queria dizer, ernoutras palavras: "Nin­guém é infalivelmente bom, a não ser Deus". Os homens podem ser bons; entretanto, isto não significa bondade, pois são limitados para exercer tal atributo.
Nas Escrituras, o homem bom é retratado como sendo acompanhado por Deus: "Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e ele deleita-se no seu caminho" (Sl 37.23).
Lutero assim defendia esta qualidade: "Uma pessoa é bondosa quando se dispõe a ajudar aqueles que estão em necessidade".
Somente pela bondade teremos graça no coração para cumprir certos mandamentos de Cristo. Por exemplo, nosso Senhor nos ensinou a amar nossos inimigos e até bendizê-los: "Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próxi­mo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos mal­tratam e vos perseguem" (Mt 5.43,44).
Paulo relembra as palavras do Senhor, em Romanos 12.14,17-21: "Abençoai aos que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis. A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas perante todos os homens. Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens. Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira [de Deus], porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. Portanto, se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem".
Com efeito, vivemos dias difíceis em que existe desa­mor até para com os bons (2 Tm 3.3), e somente através do fruto da bondade os homens poderão voltar à base de todas as qualidades espirituais: "a primeira caridade" (Ap 2.4).
7. Fé
Em 1 Coríntios 12.9, a palavra "fé" aparece como um dos dons de poder. No texto de Gaiatas, descreve uma qualidade do fruto do Espírito.
Em algumas traduções, o grego pistis ("fé") é traduzi­do por "fidelidade", a despeito do fato de que nenhuma fidelidade é possível sem o concurso da fé. Como dom de poder, significa aquela capacidade especial que vem so­bre o cristão diante de uma necessidade.
A fé, permanente em si mesma, opera no ser humano ocasional e momentaneamente. Porém, como fruto do Espírito, opera permanentemente na vida do salvo. Em outras palavras, a fé produz no crente o fruto da fidelida­de. A fidelidade é caracterizada pela firmeza de propósi­to, por uma atitude e uma conduta justa, pela devoção de alguém ser "fiel até a morte" (Ap 2.10).
A fidelidade assim demonstrada denota a certeza de que tudo quanto Deus declarou ser sua intenção fazer terá pleno cumprimento.
Todas as promessas de Deus ao homem são confirma­das com o selo da sua fidelidade. Isso dá ao cristão a ousadia e a confiança "para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé... retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porquefiel é o que prometeu" (Hb 10.19-23).
Deus é imutável! Por conseguinte, entende-se que Ele nunca muda em seus propósitos, atributos, conselhos e natureza. Deus é sempre o mesmo, em qualquer dimen­são.
A fidelidade visa também produzir esta mesma natu­reza, pois somente assim o crente irá "proceder fielmente em tudo que faz" (3 Jo 5).
8. Mansidão
Jesus Cristo foi o exemplo da mansidão: "Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração" (Mt 11.29). Outras passagens das Escrituras falam da "mansidão" de nosso Senhor, tanto no Antigo quanto no Novo Testa­mento (Sl 23.2; Is 40.11; Zc 9.9; Mt 11.29; 21.5; 2 Co 10.1 etc).
Três palavras hebraicas são usadas nas Escrituras para descrever o sentido de "manso", "mansidão": anaw -"estar inclinado" (Sl 22.26; 25.9; 37.11; 76.9; 147.6; Is 11.4; 29.19; Am 2.7; Sf 2.3); anavah - "gentileza", "hu­mildade", "mansidão" (Pv 15.33; 18.12; 22.4; Sf 2.3); anvah - "mansidão", "suavidade", "brandura" (Sl 18.35; 45.4).
A mansidão deve estar presente em cada detalhe da vida espiritual, nas obras e no viver. É preciso culti­var:
um espírito manso (1 Co 4.21; 1 Pe 3.4);
as obras de mansidão (Tg 3.13);
"a mansidão para com todos os homens" (Tt 3.2).
Muitas pessoas confundem este atributo com lentidão, timidez e até mesmo com covardia. Jesus era "manso e humilde de coração", mas é também descrito em outras passagens das Escrituras como "um guerreiro vingador" (Sl 45.3,4; Is 63.1-6; Ap 19.11-21).
No Novo Testamento, encontramos em diversas pas­sagens a palavra grega praus ("manso") e seu substanti­vo, prautes (Mt 5.5; 11.29; 21.5; 1 Co 4.21; 2 Co 10.1; Gl 5.22; 6.1; Ef 4.2; Cl 3.12; 2 Tm 2.25; Tt 3.2; Tg 1.21; 3.13; 1 Pe 3.4,15). Significa que esta virtude é considera­da uma grande qualidade espiritual, algo a ser desejado e buscado pelos santos.
9. Temperança
No grego, esta palavra, egkrateis, significa: "autocontrole", "domínio próprio", "ponto de equilíbrio entre um extremo e outro", "estado ou qualidade de ser controlado" ou "moderação habitual".
Define-se a "temperança" como a virtude que, tanto no agir como no julgar, evita extremos. Na vida espiritu­al, por exemplo, ser extremamente metódico ou formal, não é bom; ser fanático, é perigoso; e estes extremos podem levar o cristão a considerar sua igreja ou sua religião apenas como um meio de refúgio.
O fanatismo pode levar as pessoas a cometer excessos ou loucuras, com prejuízo para elas próprias e a outrem. A sobriedade é muito importante, tanto na vida social quanto na espiritual.
As Escrituras mostram-nos o verdadeiro caminho do domínio próprio: "Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, e a morte e o mal... Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente" (Dt 30.15,19).
O caminho da vida é realmente o que devemos trilhar, conforme Isaías 30.21: "Este é o caminho; andai nele, sem vos desviardes nem para a direita nem para a esquer­da".
Pessoas há que crescem desordenamente na vida espi­ritual, tornando-se um problema para a igreja e para a família. Outras procuram ordenar seus passos de acordo com a orientação bíblica de crescer na graça e no conhe­cimento (2 Pe 3.18).
O sal em excesso pode matar.
A luz demasiado forte pode cegar.
O fogo fora de controle pode destruir.
A temperança aparece como uma das quatro virtudes cardeais da filosofia moral de Platão. As outras três são: sabedoria, coragem e justiça.
Outros filósofos gregos adotaram a idéia, e teólogos cristãos acrescentaram a tríade paulina fé-caridade-esperança, perfazendo assim as chamadas "sete virtudes car­deais" em que a mente humana estaria apoiada. ()
Quando o Espírito do Senhor implanta em nosso ser esta virtude espiritual, nossas ações e palavras passam a ser diretamente controladas por Ele. Existem várias reco­mendações bíblicas, para que "andemos no Espírito" (Gl 5.16) e "vivamos no Espírito" (Gl 5.25). Se permitirmos ao Espírito encher nossa vida, seremos também por Ele controlado.
A sobriedade é fundamental para o controle de nossas palavras e ações. O cristão deve ser dócil e amável; entretanto, deve saber dizer "não" quando for necessário (cf. Mt 5.37): "Domina-te a ti mesmo; enquanto não tiveres conseguido isso, serás apenas um escravo, porque será quase a mesma coisa que estar sujeito ao apetite alheio, ou às tuas próprias paixões".
O Novo Testamento recomenda que o cristão seja sóbrio:
"Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios..." (1 Ts 5.8);
"Mas tu sê sóbrio em tudo..." (2 Tm 4.5);
"Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente sé­culo sóbria, justa e piamente" (Tt 2.12);
"Portanto, cingindo os lombos do vosso entendi­mento, sede sóbrios..." (1 Pe 1.13);
"E já que está próximo o fim de todas as coisas; portanto, sede sóbrios..." (1 Pe 4.7);
"Sede sóbrios..." (1 Pe 5.8).
O grande comentador Matthew Henry diz sobre a "tem­perança", ou o equilíbrio mental chamado "sobriedade": "Sede sóbrios, sede vigilantes contra todos os perigos e inimigos espirituais e sede equilibrados e modestos no co­mer, no beber, nas vestes, nas recreações, nos negócios e em toda a vossa conduta; sede dotados de mente sóbria até mesmo em vossas opiniões, e também humildes no julga­mento sobre vós mesmos".

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