OS POVOS ANTIGOS

AMORREUS. Habitantes das montanhas, serranos. Os amorreus ocupavam um lugar importante entre os povos que possuíam a terra de Canaã antes de ser conquistada pelos israelitas. Parece que, primeiramente, fizeram parte da grande confederação dos descendentes de Canaã (Gn 10.16). Mas no espaço que decorreu entre a ida de Jacó para o Egito e o Êxodo eles tinham-se separado dos cananeus, estabelecendo-se fortemente em Jerusalém, Hebrom, e outros lugares importantes ao sul da Palestina; também atravessaram o Jordão, e fundaram os reinos, governados por Seom e Ogue (*veja Am 2.9,10). Seom recusou aos israelitas passagem pelo seu território, e saiu a combatê-los; mas foi o seu exército derrotado inteiramente (Nm 21; Dt 2). Mais tarde, encontramos os cinco chefes ou reis dos amorreus disputando a Josué o território ao ocidente do rio Jordão (Js 10). O povo amorreu mostrou sempre ser gente audaciosa, revelando caráter de guerreiros montanheses. Nada se sabe da sua história depois da conquista de Canaã pelos israelitas.

 CANANEUS. Esta designação é usada em sentido restrito, e também em sentido lato. Implica ou a tribo que habitava uma particular porção da terra ao ocidente do Jordão antes da conquista, ou o povo que habitava, de uma maneira geral, todo o país de Canaã. Quanto à sua significação restrita: a região baixa da parte ocidental compreendia as planícies que ficam entre a praia do Mediterrâneo e a base dos montes de Benjamim, de Judá, e de Efraim, a planície de Filístia do sul, e de Sarom entre Jafa e o Carmelo, a grande planície de Esdrelom, junto à baía de Aca, a planície da Fenícia, contendo Tiro, Sidom, e todas as outras cidades daquela nação, e finalmente, o vale do Jordão, que se estendia desde o mar de Genesaré até ao sul do mar Morto, cerca de cento e noventa quilômetros de comprimento, por treze a vinte e dois quilômetros de largura. A tribo cananéia habitava a costa desde Sidom até Gaza, e dali até à extremidade sul do mar Morto (Gn 10.18,19). Os carros, que constituíam uma parte importantíssima dos seus exércitos (Js 17.16 e Jz 1.19 e 4.3), em nenhuma parte podiam ser conduzidos a não ser nas planícies. Eram estes terrenos planos a parte mais rica do país. Na sua significação mais ampla, o termo "cananeus" incluía todos os habitantes não israelitas da terra, antes da conquista.
HETEUS. Eram os descendentes de Hete, filho de Canaã. Até há poucos anos pouco se sabia a respeito dos heteus. Alguns críticos, afirmando que os heteus não eram mais que uma pequena raça de pouca importância, falavam deste povo como querendo negar o caráter histórico de 2 Rs 7.6: "Eis que o rei de Israel alugou contra nós os reis dos heteus e os reis dos egípcios, para virem contra nós." Mas as descobertas que se têm feito justificam amplamente a narrativa bíblica. Sabe-se já que os heteus constituíam um poder notável. Não muitos séculos antes do tempo do profeta Eliseu tinham disputado o império da Ásia Ocidental aos egípcios; e, ainda que o seu poder havia declinado nos dias de Jorão, eram eles ainda formidáveis inimigos e úteis aliados, podendo comparar-se o seu domínio com o dividido reino do Egito, sendo o seu reino mais poderoso que o de Judá. Depois disto é que se não fala mais deste povo no A.T. Ele tinha chegado ao auge da grandeza, quando não estava ainda fundada a monarquia de Israel, ou mesmo antes de terem os israelitas conquistado a terra de Canaã. Os heteus, a cujos príncipes e cidades se referem os posteriores livros históricos do A.T., estavam estabelecidos ao norte, sendo Hamate e Cades nas margens do Orontes os pontos mais meridionais. Mas o Gênesis fala de outros heteus (Gn 15.20). Abraão comprou a um heteu a cova de Macpela (Gn 23.10), e as duas mulheres de Esaú eram ambas daquele povo (Gn 26.34). Deve ser a estes heteus do sul que se refere a lista de Gn 10.15, e só assim se pode explicar a passagem de Ez 16.3,45, que "o pai" de Jerusalém "era amorreu", e a sua "mãe hetéia". O profeta atribui a fundação de Jerusalém aos amorreus e aos heteus. Por conseqüência, os jebuseus, de cujas mãos a cidade foi arrancada por Davi, devem ter pertencido a uma ou a outra destas duas grandes raças, provavelmente a ambas, porque as duas nações estavam estreitamente entrelaçadas. Os heteus eram um povo feio, de pele amarela, estando as suas feições mongólicas fielmente reproduzidas nos seus próprios monumentos e nos do Egito. Os seus olhos eram escuros, e tinham o cabelo preto formado em rabichos. Eram pessoas acaçapadas e fortes, ao contrário dos amorreus, que eram altos e de boa presença, com olhos azuis e cabelo louro. A colônia dos heteus na Palestina limitava-se a um pequeno distrito, nas montanhas de Judá: a sua força nacional existia bem longe, ao norte. O povo dos amorreus era mais antigo, e foi entre uma parte deste que se estabeleceram os heteus, unindo-se com aqueles por casamentos recíprocos; mas não se sabe em que tempo foi isso Fora das narrações bíblicas, tudo o que se conhece deste misterioso império dos heteus é fruto das investigações feitas nos monumentos do Egito e da Assíria, e dos estudos das inscrições encontradas nas ruínas da Ásia Menor, o centro do seu poder setentrional. Sabemos pelas tabuinhas de Tel el Amarna que, estando o Egito enfraquecido, se apoderaram os heteus gradualmente dos seus postos avançados, até que, por fim, se acharam na fronteira setentrional da Palestina, sendo então o seu poder igual ao dos egípcios, que afinal foram obrigados a ceder aos heteus a Síria do norte. E assim, das suas primitivas habitações eles se foram estendendo, para o oriente, até ao rio Eufrates, em cujas margens estava Carquemis, a sua capital, e, para o ocidente, até ao mar Egeu, sendo a Capadócia o seu limite ao norte, e ao sul as tribos de Canaã. Pelo século 12 a.C. eram ainda os heteus suficientemente fortes, para conterem os avanços dos reis assírios. Mas a esse tempo já não era um só o seu imperante. Depois, por mais de 200 anos, são silenciosas as inscrições. E é neste período de tempo que se forma o reino esplendoroso de Davi e de Salomão, aparecendo depois da separação das dez tribos de Israel o poder de Damasco. Os heteus conservaram Carquemis, até que esta cidade foi conquistada por Sargom, imperador da Assíria, em 717 a.C. A principal divindade dos heteus era a Terra, ou a "Grande Mãe", apresentando cada cidade ou Estado uma forma especial daquela deusa.
HEVEUS. Os heveus (descendentes dos cananeus, Gn 10.17) acham-se especialmente associados com os amorreus. Eles representam uma população mista de amorreus e cananeus, a qual vivia na vizinhança da grande fortaleza dos amorreus. (*veja Amorreus.) Segundo se lê em Josué (11.3), o povo heveu existia ao pé de Hermom: "habitavam nas montanhas do Líbano, desde o monte de Baal-Hermom, até à entrada de Hamate" (Jz 3.3). Há mais referências a este povo, como vivendo mais ao sul, em Gibeom (Js 9.7), e em Siquém (Gn 34.2), tendo também o nome de amorreusem outras passagens (2 Sm 21.2; Gn 48.22). Podem, portanto, ser considerados predominantemente amorreus de raça, e descendentes de Canaã (Gn 10.17). Eles habitavam Siquém quando Jacó voltava a Canaã, sendo governados pelo seu príncipe Hamor (Gn 34.2); foram vítimas dos cruéis e vingativos filhos de Jacó. Os gibeonitas eram também heveus (Js 11.19). Eles tomaram dos cananeus o costume de fazerem as suas reuniões às portas das cidades. Eram um povo pacífico quanto à sua disposição e maneiras.
GIRGASEUS. Uma das tribos que estavam de posse de Canaã quando este país foi invadido pelos filhos de Israel (Gn 10.16; 15.21; Dt 7.1; Js 3.10; 24.11; 1 Cr 1.14; Ne 9.8). O território dos girgaseus ficava ao ocidente do rio Jordão.
JEBUSEUS. Pertencentes a Jebus. São os descendentes de Jebus, filho de Canaã, os quais colonizaram o distrito, em volta de Jerusalém, que então se chamava Jebus (Gn 10.16; 15.21). Não se sabe se foram eles os primitivos habitantes, ou se substituíram uma raça ainda mais antiga. A primeira referência aos jebuseus foi feita pelos espias, quarenta anos antes da entrada dos israelitas na Terra Santa (Nm 13.29). Constituíam eles uma forte e vigorosa tribo, sendo disto prova o fato de conservarem o seu poder na forte cidadela de Jebus até ao tempo de Davi (2 Sm 5.6). O seu rei Adoni-Zedeque foi morto na batalha de Bete-Horom (Js 10.1,5,26). A própria fortaleza de Jebus foi posta a saque e queimada pelos homens de Judá (Jz 1.21). Todavia, estes contínuos desastres não puderam pô-los fora do seu território, visto como os achamos numa época posterior, habitando ainda as terras de Judá e Benjamim (Js 15.8,63; Ed 9.1). A submissão de Araúna, o rei jebuseu, a Davi, apresenta-nos um quadro característico da vida dos cananeus e também dos israelitas (2 Sm 24.23; 1 Cr 21.15). Nada se sabe a respeito da religião doa jebuseus. Somente dois membros desta tribo são mencionados pelo seu nome, e são Adoni-Zedeque (Senhor de Justiça) e Araúna. (*veja Jerusalém).
FILISTEUS. É desconhecida a significação, talvez querendo dizer imigrantes; os filisteus habitavam as terras baixas de Judá ao longo da costa, desde Jope até ao deserto de Gaza. O território tinha cinco divisões, cada uma das quais com a sua capital - Asdode ou Azoto, Gaza, Ascalom, Gate e Ecrom, sendo as duas últimas cidades situadas no interior. Estes cinco distritos formavam uma confederação de que Asdode era a capital federal (1 Sm 6.17); e por isso foi para ali levada a arca (1 Sm 5.1). É muito incerta a data do estabelecimento deste povo em Canaã, mas eles venceram o Avim, tendo vindo de Caftor (Dt 2.23; Jr 47.4; Am 9.7). Quando os israelitas entraram no país, bem depressa estiveram em conflito com os filisteus, que obstinadamente resistiram aos invasores, obrigando uma parte da tribo de Dã a emigrar para as proximidades do monte Hermom (Jz 18). O poder dos filisteus aumentou durante o governo dos juizes e de Saul; foi Davi, que depois da morte do seu antecessor, de um modo notável uniu as tribos e os derrotou. (*veja Sansão.) A parte superior do território dos filisteus foi reclamada pelos descendentes de Efraim (1 Rs 15.27; 16.15), que, contudo, não puderam expulsar os habitantes. A Filístia em nenhum tempo fez parte do Reino de Israel (2 Rs 1.3; 8.2); jamais o seu povo deixou de atacar os israelitas, praticando terrivelmente a pilhagem, e prendendo os habitantes para vendê-los como escravos (1 Sm 10.5; 13.3, 17; 14.21; 23.1; 28.1; 29.11; 31.1 a 12). Esta situação durou até que Tiglate-Pileser (734 a.C.) invadiu todo o país, subjugando os filisteus até Gaza. Alguns anos depois revoltaram-se contra Sargom (Is 20) e Senaqueribe. Ezequias foi envolvido na luta, por ter recebido o rei de Ecrom, que antes tinha estado em boas relações com a Assíria. O rei Ezequias havia restabelecido sobre a Filístia, o poder que Salomão tinha adquirido (2 Rs 18.8). Nesta ação foi o rei de Judá auxiliado pelos egípcios que se apoderaram dos lugares baixos do país (Is 19.18). Mas Senaqueribe, na guerra com os egípcios, tomou Ascalom. Outras cidades se submeteram aos assírios, perdendo Ezequias, também, certas porções do seu território. Por muito tempo os assírios tiveram a cidade de Asdode em seu poder, até que os egípcios, sob Psamético I, a subjugou (Jr 25.20). Neco, o seguinte egípcio, quando voltava da batalha de Megido, conquistou Gaza. Ainda outra vez os filisteus ficaram esmagados entre as duas potências em luta, o Egito e a Caldéia, pois Nabucodonosor, percorrendo o país levou cativa, depois de grande mortandade, quase toda a população (Jr 47). O velho ódio dos filisteus para com os judeus se patenteou durante o cativeiro (Ez 25.15 a 17). Todavia, desde a volta do cativeiro, a história dos filisteus é absorvida nas lutas dos reinos vizinhos.

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