OS JUÍZOS DA TRIBULAÇÃO


A respeito dos juízos em Apocalipse, Scott escreve:
No intervalo [entre o arrebatamento e o segundo advento] as séries sétuplas de juízos sob os selos, as trombetas e as taças se desenrolam. Esses castigos divinos aumentam em severidade à medida que passam de uma série para a outra. Os juízos não são simultâneos, mas sim sucessivos. As trombetas suce­dem os selos, e as taças seguem as trombetas. Uma rigorosa seqüência crono­lógica é observada [...] Os selos foram abertos a fim de que as partes sucessi­vas da revelação futura de Deus pudessem ser expostas, mas apenas à luz da fé — o restante da humanidade consideraria os juízos meramente providen­ciais. Tais coisas tinham ocorrido antes.
Mas o alto alarido das trombetas pelos anjos faz supor uma ação pública de intenso caráter judicial para com os homens. Essas trombetas místicas soam um alarme de uma extremidade à outra da cristandade apóstata. A intervenção pública de Deus no cenário de culpa e hipocrisia fica assim subentendida. Então, no terceiro símbolo geral, as taças derramadas, a ira concentrada de Deus ocupa avassaladoramente todo o cenário profético debaixo do céu. O capítulo 16 revela uma série de juízos até então insuperáveis em alcance e severidade. (Walter Scott, Exposition of the revelation of Jesus Christ, p. 176)
I. Os Selos
A cena da abertura do rolo selado com sete selos pelo Filho de Deus é apresentada em Apocalipse 6. Aqui se encontra o início do desdo-
bramento do plano de juízo de Deus. Ao longo do livro, são menciona­dos anjos associados à execução do plano divino de juízo. Ottman diz:
Quando o primeiro selo é quebrado, escuta-se a voz de um querubim que diz: "Vem" [...] É a voz de um dos querubins que convoca o instrumento de juízo divino. Os querubins ainda estão ligados ao governo de Deus. Esse governo diz respeito à terra sobre a qual os juízos são agora executa­dos. Os sucessivos flagelos, que surgem à medida que os selos são que­brados, estão sob o controle divino. Nenhum instrumento de juízo apare­ce até que seja convocado pelo querubins. (Ford C. Ottman, The unfoldíng of the ages, p. 153)
Darby chama os selos de "preparação providencial do governo divino para a vinda de Jesus". (William Kelly, org. The collected writing of J. N. Darby, Prophetical, v, p. 30) Deus está lidando em ira (Ap 6.16,17), por meio de agentes humanos, para derramar juízo sobre a terra.
Existe uma concordância geral entre os comentaristas sobre a interpretação dos selos. O primeiro (6.2) representa as tentativas dos ho­mens de estabelecer paz na terra. Isso pode ser associado à aliança feita pela besta para estabelecer paz na terra. O segundo (6.3,4) representa a eliminação da paz da terra e das guerras que a inundam. O terceiro (6.5,6) representa a fome resultante da guerra e da devastação. O quar­to (6.7,8) representa a morte que segue no rastro o fracasso humano de estabelecer a paz. A quinta (6.9-11) revela a morte dos santos de Deus por causa de sua fé, bem como o seu apelo por vingança. O sexto (6.12-17) fala das grandes convulsões que abalarão a terra. Isso pode signifi­car a condição em que toda a autoridade e o poder perde seu controle sobre o homem e reina a anarquia.
Kelly diz: "Os poderes perseguido­res e os que estão a eles sujeitos serão legalmente afligidos, e o resulta­do será uma completa deterioração da autoridade na terra". (William Kelly, The revelation expounded, p. 104) Esses se­los são, então, o início do juízo de Deus sobre a terra. Eles são desdo­bramentos sucessivos do plano de juízo, apesar de poderem continuar por todo o período uma vez desdobrados. São principalmente juízos divinos canalizados por agentes humanos. Sobrevêm à terra na primei­ra parte da tribulação e continuam por todo o período.
II. As Trombetas
A segunda parte do plano de juízo é revelada pelo soar das sete trom­betas (Ap 8.2-11.15). A respeito do uso das trombetas, Newell escreve:
As trombetas foram ordenadas por Deus para Israel com o propósito de convocar os príncipes e a congregação, levantar o acampamento para as jornadas, servir como alarme ou notificação pública (Nm 10.1-6).
As trombetas também deveriam ser tocadas nos dias da "alegria" de Israel, nas festas religiosas e por ocasião dos sacrifícios "no primeiro dia do mês", "como memorial perante o vosso Deus". Jeová também as amava (Nm 10.10).
Encontramos, todavia, o uso especial das trombetas para despertar as hostes de Jeová à guerra contra seus inimigos (Nm 10.9). Compare com isso Ezequiel 33.1-7, em que a trombeta do atalaia, fielmente tocada, li­vraria da destruição os que se dessem por avisados [...]
Assim também com os sete anjos. Eles fazem soar as trombetas do próprio céu contra uma terra que se tornou "como nos dias de Noé [...] como nos dias de Sodoma", da mesma forma que Josué e Israel tocaram trombetas contra Jericó.(William R.Newell, The revelation, p. 119)
Existe grande divergência de opinião entre os comentaristas a res­peito da interpretação dessas trombetas de juízo. Alguns as interpre­tam com severa literalidade, enquanto outros as consideram simboli­camente; e o espectro da interpretação simbólica é realmente grande. Observamos que as quatro primeiras trombetas são separadas dos três últimos juízos, e estes chamados especificamente "ais".
A primeira trom­beta (8.7) representa um juízo que cai sobre a terra e mata um terço de seus habitantes. A segunda trombeta (8.8,9) representa um juízo que cai sobre o mar e, novamente, mata um terço de seus habitantes. Acredita-se aqui que a terra possa representar a Palestina, como acontece repeti­das vezes nesse livro, e o mar represente as nações. Desse modo, esses dois retratos de juízo de Deus são de inimaginável extensão para todos os habitantes da terra. A terceira trombeta (8.10,11) representa o juízo que cai sobre os rios e fontes de água. Esses são usados nas Escrituras como a fonte da vida, até mesmo de vida espiritual, e isso pode referir-se ao juízo sobre aqueles de quem a água viva é retirada pelo fato de terem crido numa mentira (2 Ts 2.11). A quarta trombeta (8.12,13) é um juízo sobre o sol, sobre a lua e sobre as estrelas. Esses representam os poderes governamentais e podem indicar o juízo de Deus sobre os líderes mundi­ais.
A quinta trombeta, que é o primeiro ai (9.1-12), retrata um indivíduo fortalecido pelo inferno, que pode lançar sobre a terra tormentos de di­mensão sem precedentes. Em geral, aceita-se que não se trata de gafa­nhotos literais, pois não se alimentam como gafanhotos normais. A sexta trombeta, que é o segundo ai (9.13-19), aparece como um grande exército liberado para marchar com força destrutiva sobre a face da terra.
Em relação a esses dois ais, Kelly escreve:
Primeiramente, uma angústia atormentadora cai sobre a terra, mas não sobre os que foram selados dentre as doze tribos de Israel. Em seguida, os cavaleiros do Eufrates são lançados contra os poderes do Ocidente, sur­preendendo toda a cristandade e particularmente o Ocidente como obje­to especial do juízo de Deus. O primeiro é enfaticamente um tormento de Satanás contra os judeus apóstatas; o último é a mais dura imposição da energia humana agressiva, embora não apenas isso, vinda do Leste con­tra o Ocidente corrupto e idólatra. A morte de um terço dos homens re­presenta não apenas o fim físico, mas até mesmo a destruição de toda a confissão de relacionamento com o único e verdadeiro Deus. (Kelly, op. cit., p. 123-4)
Isso nos faz supor que os dois ais serão dois grandes exércitos em mar­cha, um contra Israel e outro contra os gentios, que destruirão um terço da população mundial. Visto que a arma de Satanás contra Israel é a confederação do Norte, ela pode ser representada pela quinta trombe­ta, e a guerra entre os gentios pode ser representada pela sexta. A séti­ma trombeta e o terceiro ai (11.15) preparam o retorno de Cristo à terra e a subseqüente destruição de todos os poderes hostis na conclusão do plano da campanha de Armagedom.
Parece haver um paralelo entre os juízos das sete trombetas e o plano da septuagésima semana como já esboçado. O meio da semana começa com a ascensão dos grandes poderes militares em aliança. Isso corresponderia à primeira trombeta. Reinos são destruídos, trazendo morte, como na segunda trombeta. Um grande líder surgirá, a besta, na terceira trombeta. Sua ascensão provocará a destruição de governos e de autoridades, como ocorre na quarta trombeta. Haverá grande movi­mentação militar nesse período. Os exércitos da confederação do Norte invadirão a terra de Israel, como na quinta trombeta, e os poderes gen­tios competirão por uma posição de poder, o que causará grande des­truição, como na sexta trombeta. Esses atingirão o clímax com o segun­do advento de Cristo, como se vê na sétima trombeta.
III. As Taças
A terceira série de juízos que completam o derramamento da ira divina são as taças (Ap 16.1-21). Embora quatro dessas taças sejam der­ramadas nas mesmas áreas que as trombetas, não parecem refletir o mesmo juízo. As trombetas começam no meio da tribulação e represen­tam os acontecimentos de toda a segunda metade da semana. As taças parecem abranger um período muito breve no final da tribulação ime­diatamente anterior ao segundo advento de Cristo. Essas taças pare­cem fazer referência particular aos incrédulos, uma vez que experimen­tam uma ira especial de Deus (16.9,11), e têm referência especial à besta e a seus seguidores (16.2).
A primeira taça (16.2) é derramada sobre a terra como aconteceu com a primeira trombeta. Nesse juízo Deus derrama Sua ira sobre os adoradores da besta. A segunda taça (16.3), como na segunda trombe­ta, é derramada sobre o mar. O resultado desse juízo é a morte espiritu­al. O mar torna-se morto, "como o sangue de um homem morto". A terceira taça (16.4-7), como a terceira trombeta, é derramada nos rios e fontes de água, que perdem seu poder de nutrir, satisfazer ou manter a vida. Isso parecer referir-se à impossibilidade de encontrar vida para os que seguiram a besta. A quarta taça (16.8,9), como a quarta trombeta, cai sobre o sol. Nesse caso, é retratado um indivíduo, pois João se refere ao sol como "ele". Isso deve dizer respeito ao juízo de Deus que impõe cegueira aos seguidores da besta.
A quinta taça (16.10,11) relaciona-se à imposição de escuridão sobre o centro do poder da besta, prevendo a destruição do império que alega ser o reino do Messias. A sexta taça (16.12) prepara o caminho para a invasão dos reis do Leste, a fim de que, com os exércitos da besta, possam comparecer ao juízo de Armagedom. A sétima taça (16.17-21) fala sobre a grande convulsão que subverte completamente as atividades dos homens à medida que experimentam o "furor da sua ira" (16.19).
IV. O Juízo Contra a Babilônia
Apocalipse 17 esboça o juízo da grande meretriz, o sistema religi­oso apóstata que existe no período tribulacional. A igreja professante incrédula entrou no período tribulacional (Ap 2.22; 3.10) e dela surgiu um grande sistema religioso, dominado pela grande meretriz.
A. A descrição da grande meretriz. João apresenta uma descrição de­talhada desse sistema.
1) O sistema é caracterizado como uma meretriz (Ap 17.1,2,15,16). Ela alegava ser a noiva de Cristo, mas caiu de sua posição pura e tornou-se uma meretriz.
2) O sistema é um condutor de negócios eclesiásticos (Ap 17.2,5). Nas Escrituras, a fornicação espiritu­al refere-se à adesão a esse falso sistema.
3) O sistema é um condutor de negócios políticos (Ap 17.3). Parece controlar a besta na qual monta.
4) O sistema torna-se muito rico e influente (Ap 17.4).
5) O sistema repre­senta uma fase do desenvolvimento da cristandade que até agora não foi revelada (Ap 17.5) e por isso é chamada "mistério".
6) O sistema é o grande perseguidor dos santos (Ap 17.6).
7) O sistema é organizado mundialmente (Ap 17.15).
8) O sistema será destruído pela besta, o ca­beça da aliança romana, a fim de que sua supremacia não seja ameaçada (Ap 17.16,17) (Cf. Ottman, op. cit, p. 278-81)
B. A identidade da meretriz. Hislop, em sua obra cuidadosamente documentada The two Babylons [As duas Babilônias], delineou o relacio­namento existente entre a Babilônia antiga e a doutrina e a prática des­se sistema prostituído, chamado Babilônia, o Mistério. Ironside traça o mesmo desenvolvimento quando escreve:
A mulher é um sistema religioso que domina o poder civil, pelo menos por algum tempo. O nome sobre sua testa nos permite identificá-la facil­mente. Mas, para fazermos isso, seria bom voltarmos ao Antigo Testa­mento para ver o que é revelado a respeito da Babilônia literal, pois uma certamente iluminará a outra [...]
[...] aprendemos que o fundador de Bab-el, ou Babilônia, foi Ninrode, cujas realizações profanas podem ser lidas no décimo capítulo de Gênesis. Ele foi o arquiapóstata da era patriarcal [...] ele persuadiu seus compa­nheiros e seguidores a juntar-se na "construção de uma cidade e uma torre que alcançariam o céu" [...] que devem ser entendidas como um templo ou centro de reuniões para os que não obedeciam à palavra do Senhor [...] eles chamaram sua cidade e torre de Bab-El, o portal de Deus; mas depressa isso foi transformado, por juízo divino, em Babel, isto é, confusão. Desde o início ela trazia a marca da irrealidade, pois nos é dito que "os tijolos serviram-lhes de pedra, e o betume, de argamassa". Uma imitação do que é real e verdadeiro caracterizou, desde então, a Babilônia, em todos os tempos.
Ninrode, ou Nimroud-bar-Cush [...] era neto de Cam, o filho indig­no de Noé [...] Noé trouxe consigo, do outro lado do dilúvio, a revelação de um Deus verdadeiro [...] Cam, por outro lado, parece ter sido muito rapidamente afetado pela apostasia que provocou o dilúvio, pois não de­monstra evidência alguma de autojuízo [...] seu nome significa "escuro", "escurecido" ou, mais literalmente, "queimado de sol". Esse nome indica o estado da alma do homem [...] escurecida pela luz do céu [...] [Cam] gerou um filho chamado Cuxe, "o negro", que se tornou pai de Ninrode, o líder de sua geração.
O conhecimento antigo nos assiste dizendo que a esposa de Nimroud-bar-Cush foi a notória Semíramis I. Ela é considerada a fundadora dos mistérios babilônicos e a primeira suma sacerdotisa da idolatria. Assim, a Babilônia tornou-se a fonte da idolatria e mãe de todo o sistema pagão no mundo. A religião de mistério ali originada espalhou-se sob várias for­mas pelo mundo [...] e está conosco hoje [...] e terá seu desenvolvimento máximo quando o Espírito Santo partir e a Babilônia do Apocalipse ocu­par o lugar da igreja.
Baseado na promessa de que a Semente de uma mulher estava por vir, Semíramis gerou um filho que declarou ter sido concebido miraculosamente! E quando o apresentou ao povo, ele foi aclamado como o libertador prometido. Esse era Tamuz, contra cuja adoração Ezequiel protestou na época do cativeiro. Dessa maneira foi introduzido o mistério da mãe e do filho, um tipo de idolatria mais antigo do que qualquer outro conhecido pelo homem. Os rituais de adoração eram secretos. Apenas aos iniciados era permitido conhecer seus mistérios. Era o esforço de Sa­tanás para enganar o homem com uma imitação tão semelhante à verda­de de Deus que os homens não poderiam conhecer a verdadeira Semente da mulher quando Ele viesse no cumprimento dos tempos [...]
Da Babilônia essa religião de mistério espalhou-se por todos as na­ções vizinhas [...] Por toda a parte os símbolos eram os mesmos, e o culto à mãe e seu filho tornou-se um sistema popular; sua adoração era cele­brada com as práticas mais repulsivas e imorais. A imagem da rainha do céu com a criança nos braços era vista por toda parte, embora os nomes variassem segundo a diversidade de línguas. Ela se tornou a religião mis­teriosa da Fenícia, e pelos fenícios foi levada aos confins da terra. Astarte e Tamuz, a mãe e o filho dessas aventuras, tornaram-se Ísis e Hórus no Egito, Afrodite e Eros na Grécia, Vênus e Cupido na Itália e muitos outros nomes em outras regiões mais distantes. Dentro de mil anos o babilonismo tornou-se a religião do mundo, que rejeitara a revelação divina.
Ligados a esse mistério central existiram vários outros mistérios menores [...] Dentre eles estavam as doutrinas da purificação no purgató­rio depois da morte, a salvação por inúmeras coisas sagradas como a ab­solvição sacerdotal, o derramamento de água benta, a oferta de pães para a rainha do céu como mencionado no livro de Jeremias, a dedicação de virgens aos deuses, que era literalmente prostituição santificada, chorar por Tamuz durante 40 dias antes do grande festival de Istar, que dizia que seu filho tinha ressuscitado da morte; pois se ensinava que Tamuz havia sido morto por um javali e depois ressuscitado. O ovo era sagrado para ele, pois representava o mistério de sua ressurreição, assim como o pi­nheiro foi o símbolo escolhido para honrar seu nascimento no solstício do inverno, quando a cabeça de um javali era comida em memória de seu conflito, e uma tora de madeira era queimada em meio a muitas práticas misteriosas. O sinal da cruz era sagrado para Tamuz, pois simbolizava um princípio de vida e a primeira letra de seu nome. A cruz é representada sobre inúmeros altares e templos mais antigos e não se originou, como muitos supõem, com o cristianismo.
O patriarca Abraão foi separado por chamado divino dessa religião misteriosa; e com esse mesmo culto maligno a nação que dele nasceu es­teve em conflito constante, até que, sob Jezabel, uma princesa fenícia, ele foi enxertado no que restara da religião de Israel no reino do Norte, no reinado de Acabe, tornando-se a causa básica de seu cativeiro. Judá esta­va poluído por isso, pois a adoração de Baal era simplesmente a forma cananéia dos mistérios babilônicos, e somente tendo sido mandado para o cativeiro na Babilônia Judá foi curado de sua afeição para com a idola­tria. Baal era o deus sol, o doador de vida, identificado com Tamuz.
[...] embora a cidade babilônica há muito tivesse se tornado apenas uma lembrança, seus mistérios não tinham desaparecido com ela. Quan­do os templos da cidade foram destruídos, o sumo sacerdote fugiu com um bando de iniciados, vasos sagrados e imagens em direção a Pérgamo, onde o símbolo da serpente era o emblema da sabedoria escondida. De lá eles cruzaram o mar e emigraram para a Itália [...] Ali os cultos antigos foram propagados sob o nome de mistérios etruscos, e por fim Roma tor­nou-se o centro do babilonismo. O sumo sacerdote usava mitras com for­mato de cabeça de peixe para honrar Dagom, o deus-peixe, o senhor da vida — outra forma de mistério de Tamuz, conforme desenvolvido pelos velhos inimigos de Israel, os filisteus.
Quando se estabeleceu em Roma, o sumo sacerdote denominou-se pontífice máximo, título que foi inscrito em sua mitra. Quando Júlio César (que, como todos os jovens de boas famílias romanas, era um iniciado) tornou-se chefe de estado, foi eleito pontífice máximo, e esse título foi mantido por todos os imperadores ro­manos até Constantino, o Grande, que era, ao mesmo tempo, líder da igreja e sumo sacerdote dos pagãos! O título foi então conferido aos bis­pos de Roma e é mantido pelo papa até hoje, que assim é declarado não como o sucessor do apóstolo pescador Pedro, mas o sucessor direto do sumo sacerdote do mistério babilônico e o servo do deus-peixe Dagom, para quem usa, como seu antecessor idólatra, o anel do pescador.
Durante os primeiros séculos da história da igreja, o mistério da ini­qüidade operara com efeito surpreendente, e as práticas e ensinamentos babilônicos tinham sido tão absorvidos por aquilo que trazia o nome de igreja de Cristo, que a verdade das Escrituras Sagradas foi muitas vezes completamente obscurecida, ao passo que as práticas idólatras foram acei­tas como sacramentos cristãos, e filosofias pagãs tomaram o lugar da ins­trução do evangelho. Assim, foi desenvolvido o surpreendente sistema que por mil anos dominou a Europa e comerciou corpos e almas de homens, até que a grande Reforma da século XVI trouxe certa medida de libertação.(Harry A. Ironside, Lectures on the revelation, p. 287-95.)
Não é exagero dizer que as falsas doutrinas e práticas encontradas den­tro do romanismo são diretamente atribuídas à união desse paganismo com o cristianismo, quando Constantino proclamou Roma como impé­rio cristão. Conclui-se então que a prostituta representa toda a cristan­dade professante unida num sistema único sob um único cabeça.
C. O julgamento da meretriz. João apresenta claramente o juízo sob esse corrupto sistema quando diz:
Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão de­vastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo. Porque em seus corações incutiu Deus que realizem o seu pensamento, o executem à uma e dêem à besta o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus (Ap 17.16,17).
A besta, a princípio dominada pelo sistema da meretriz (Ap 17.3), er­gue-se contra ele e o destrói completamente. Sem dúvida o sistema da meretriz competia com a adoração religiosa da besta promovida pelo falso profeta, e sua destruição ocorre para que a besta possa ser o único objeto de falsa adoração ao proclamar-se como Deus.
V. O Julgamento da Besta e Seu Império
Ao traçar a campanha de Armagedom, vimos que Deus julga os poderes mundiais gentílicos e os derruba. A confederação do Norte foi julgada por Deus nas montanhas de Israel durante o período tribulacional. Os reis do Leste, suas forças e os exércitos da besta foram destruídos no segundo advento de Cristo. Uma descrição desse juízo é dada em Apocalipse 18. Lá o império político é visto como tendo sido tão unido ao império da falsa religião, que ambos são chamados pelo mesmo nome, apesar de duas entidades diferentes estarem em vista nesses dois capítulos. Scofield declara sucintamente:
Duas "Babilônias" são diferenciadas uma da outra em Apocalipse: a Babilônia eclesiástica, que é a cristandade apóstata, liderada pelo papado; e a Babilônia política, que é o império confederado, a última forma do dominação mundial gentílica. A Babilônia eclesiástica é a "grande mere­triz" (Ap 17.1) e é destruída pela Babilônia política (Ap 17.15-18), para que a besta seja o único objeto de adoração (2 Ts 2.3,4; Ap 13.15). O poder da Babilônia política é destruído pela volta do Senhor em glória [...] A idéia de que uma Babilônia literal será reconstruída no local da Babilônia antiga entra em conflito com Isaías 13.19-22. Mas a linguagem de Apocalipse 18 (e.g., v. 10,16,18) sem sombra de dúvida parece identificar "Babilônia", a "cidade" de luxo e de negócios, com Babilônia, o centro eclesiástico, em Roma. Os próprios reis que odiavam a Babilônia eclesiás­tica lastimam a destruição da Babilônia comercial. (C. I. Scofield, Reference Bible, p. 1346-7)
A destruição da sede do poder da besta é realizada por um acesso divi­no de juízo pelo fogo (Ap 18.8).
Agora que examinamos as principais linhas da revelação concernentes ao período tribulacional, torna-se óbvio que a revelação do plano de Deus para esse período constitui uma das partes mais im­portantes do estudo profético. Os planos para Israel, para os gentios e para Satanás atingem seu auge no período imediatamente precedente ao segundo advento de Cristo.


FONTE: Manual de Escatologia Bíblica.- Editora Vida.

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